quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Aquele Natal...



Tinha talvez uns 4 ou 5 anitos, sinceramente nem me lembro. Eu e as minhas duas irmãs, mais velhas que eu, dormiamos num dos dois quartos da casa, partilhando uma cama de casal.O meu irmão dormia na sala.
Não vislumbro todos os pormenores, mas a minha memória guarda com carinho o dia em que os meus pais nos deram a única prenda de Natal. Nunca se celebrou esta quadra lá em casa, ou melhor, nunca houve ceia de Natal e muito menos troca de presentes, antes de termos idade para começar a ganhar uns trocos e sermos nós a darmos prendas aos nossos pais e aos outros. Fazíamos o presépio, guardado religiosamente numa caixinha de sapatos, a árvore de Natal de pinheiro natural apenas com duas bolitas aqui e acolá e pedacinhos de algodão a simular a neve. Com os anos, as peças do presépio foram-se partindo e nunca mais tivemos nenhum...
Chegámos a ter festa de Natal na empresa onde o meu pai trabalhava como mero operário fabril, num hotel da cidade, onde nos era entregue um saco de brinquedos. Fomos lá um ou dois anos apenas, porque éramos 6 lá em casa e não tinhamos carro. De qualquer forma, os brinquedos que nos eram atribuídos eram "desviados" pelos nossos primos, que moravam mesmo em frente, para nossa desolação...
Enfim, mas não é disso que quero falar. É do Natal mais marcante que tive até hoje.Como estava a contar, tinha poucos anos de vida quando os meus pais resolveram fazer algo de diferente, para não deixar passar aquele dia em branco. Lembro-me de abrir o papel pardo azul e encontrar 3 rebuçadinhos Dr Bayard e duas ou três bolachas Maria.A mesma coisa recebeu a minha irmã do meio. A mais velha recebeu o seu primeiro relógio, que tinha sido da minha mãe, mas ainda funcionava. O meu irmão, já perto dos seus vinte anos, estava na tropa.
Fiquei tão feliz! Bolachas Maria, ao contrário do que se possa pensar, lá em casa nunca tinham existido e rebuçados muito menos. O magro ordenado do meu pai tinha que dar para as contas e para a alimentação. Não havia lugar para extras. Daí eu me recordar com tanto carinho desse Natal... Foi um momento único, que não mais se voltou a repetir...
Cresci, os meus irmãos casaram, nunca nos convidaram para o Natal porque desde sempre o passaram com os sogros. Casei eu e logo no primeiro ano fiz questão de convidar a todos, mas o meu irmão só passou por cá no fim do jantar. Finalmente tinha um jantar de Natal em família, a MINHA família... A tradição teve os dias contados... Três anos depois, o meu pai faleceu em Novembro, pelo que o Natal foi muito triste... Outros 4 anos e, quem devia ser a minha prenda, a 26 de Dezembro, partiu a 26 de Outubro...
Aquele Natal, com as minhas bolachinhas Maria... é o meu melhor Natal de sempre :)

2 comentários:

  1. Se recordar é viver, guardemos nas nossas mentes os momentos felizes das nossas vidas. Mais tarde viveremos recordando momentos felizes que o tempo levou.
    Um Bom Natal para si e todos a quem ame
    osanto

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  2. Santo,é a recordar que as vou vivendo :) O tempo já não volta atrás, mas ficam as lembranças.

    Feliz Natal!

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