sexta-feira, 23 de julho de 2010

Outras vidas...

Tenho uma amiga dos tempos do liceu que, não sei se por ser forte se devido à sua maneira de ser, nunca teve muitos amigos. Desde que travei conhecimento com ela, em pleno 10º ano e numa turma onde eu não conhecia ninguém, que ela se “colou” a mim, tanto que uma prima minha começou a chamá-la de “purgante”. Confesso que era difícil por vezes manter a calma e não perder as estribeiras quando um rapaz se metia comigo e ela respondia a correr nem me dando oportunidade de falar, ou quando íamos a algum lado e ela dizia coisas inoportunas alto e bom som deixando-me mais corada que um tomate. Porém, nunca fez parte da minha maneira de ser deixar de ser amigo de alguém por “dá cá aquela palha” e por isso as coisas foram-se arrastando. Nos trabalhos de equipa ficávamos as duas, partilhámos algumas carteiras, íamos a pé para casa juntas.



Quando chegámos ao 12º ano eu não sabia se poderia prosseguir estudos devido às fracas posses da minha família. Essa minha amiga deixou uma disciplina por acabar. Deixámos então de nos ver diariamente. Entretanto comecei a namorar o meu actual marido, que também a achava um pouco “diferente”, tal como a maior parte das pessoas que a conheciam, e entrei para a universidade. Tudo isto fez com que nos afastássemos, embora periodicamente telefonássemos uma à outra. Casei, convidei-a para o meu casamento… Ela, namoricos fugazes, nada a registar. Começei então a sentir remorsos e convidava-a para ir lá a casa jantar, ou melhor, ia buscá-la já que ela não conduz. Confesso que às páginas tantas até isso deixei de fazer. Não ouvi um obrigado sincero uma única vez e achei que o meu esforço não valia a pena…



A vida complicou-se, trabalhamos as duas, eu tenho três filhos, o fim-de-semana é passado em família. Cada vez menos mensagens, menos telefonemas… Pensava porém nela com alguma frequência porque nunca gostei de ver ninguém só. É filha única e os pais aproximam-se de uma idade em que mais dia, menos dia precisam que alguém cuide deles. Engordara imenso.



Há cerca de um ano disse-me que tinha saído de casa para ir morar com um rapaz. Notei que estava mais magra, feliz, mas inconsciente da vida a dois. Convidei então o casalinho para jantar lá em casa. Tratava-se de um rapaz que residia no seu antigo bairro, de famílias muito modestas. Porém, ela não se ficava nada atrás.



Tive esperança então de que ela finalmente organizasse a sua vida e que ficasse mais independente.



Engravidou. Há duas semanas, assim que soube que era um rapaz, levei-lhe as roupas do Tomás que estivessem ainda em bom estado e alguma que me fora dada também. Vi então que morava num apartamento híper pequeno, sem luxo algum. Fiquei com pena dela, mas ela demonstrou estar feliz.



Ontem recebi a notícia de que o menino, Tiago Alexandre, nascera na semana passada, 3 semanas antes da data prevista. Disse-me então que as roupas que lhe dera caíram do céu, porque poucas mais tinha. Senti-me feliz por ela. Despedi-me com a promessa de ir conhecer o petiz em breve. A Inês não cabia em si de contente.



Bem-vindo Tiago!


4 comentários:

  1. Uma Amiga com A grande, é o que és.

    Não te esqueças que ainda tenho umas roupitas do Tomás lá em casa. Se dão para dois, dão para três também:)

    beijinhos

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  2. Rita, hoje em dia temos que nos ajudar uns aos outros. Não acredito que as coisas melhorem de um dia para o outro...
    Sim, eu sei, e posso arranjar-te mais :) Passa quando puderes.


    Beijinhos ao quarteto!!

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  3. Olá If!

    É uma boa demonstração que tens um coração grande. Poucos são os que pensam nos outros... infelizmente.

    Bjs e espero que tenhas umas boas férias! :)
    Kipo

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  4. Kipo, até que enfim consigo responder. Esta coisa de vez em quando "desactiva" a caixa dos comentários. Só neste PC e não sei porquê...

    Eu gosto de ajudar porque dou apreço aos que já me ajudaram.Dou-lhes imenso valor e faço questão de lhes dizer isso mesmo!

    Férias com os pirralhos (onde já li isto?...) é complicado, mas é tudo por uma boa causa.Adoro-os :D

    Bjsss

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:P